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Nelson Maculan Filho: o exemplo de vida da SBMAC

Engenheiro dá aulas de Matemática na COPPE-UFRJ desde 1971 e marcou sua trajetória como conselheiro da SBMAC nas décadas de 1980 e 1990

Quem se depara com Nelson Maculan Filho dificilmente imagina que o paranaense já passou da ‘casa dos 80’. Na aparência, sinaliza, no mínimo, 10 anos a menos e, quando começa a relembrar as histórias, então, não para mais. A memória é tão viva que explica por si só como alguém pode reunir tanto conhecimento assim. Na cabeça, são muitos números, datas, locais e pessoas que conheceu pela Matemática.

Nelson nasceu em Londrina no dia 19 de março de 1943, filho de pai de mesmo nome, famoso no Paraná pela vida empresarial e política, que chegou a Brasília como Senador e Deputado Federal pelo estado do Paraná. O primogênito, por sua vez, não foi preparado para a vida pública, mas, desde criança, veio a afeição pela educação.

A infância no Paraná durou até os 15 anos, quando se mudou para o Rio de Janeiro por influência da avó, ‘carioca da gema’. A transferência também teve a ver com seu futuro, como ele gosta de lembrar. “Na época, não havia universidade no Paraná, então vim para o Rio. Me preparei para o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e a Escola de Minas de Ouro Preto (Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP). Acabei optando por Ouro Preto”, revela.

Em meio à graduação, militou em movimentos estudantis e fez parte de um grupo da esquerda brasileira. Com o golpe militar em março de 1964, Nelson chegou a ser preso pela ditadura, assim como o pai. “Acabei sendo preso porque fazia parte da União Nacional dos Estudantes (UNE, grupo clandestino que sofreu perseguição). Virei hóspede do governo por um tempo”, ironiza.


Experiência no exterior

Solto pouco tempo depois, o paranaense completou a graduação em 1965 na UFOP em Engenharia de Minas e Metalurgia. Com uma bolsa de estudos do governo francês, ele foi para Paris em 1966 e interrompeu seu Mestrado no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE-UFRJ). Só que, naquele ínterim, acendeu sua paixão pela Matemática.

“Eu me interessei no Mestrado na COPPE, que abriu as opções para Metalúrgica, Elétrica e Mecânica em 1966. Vim para cá fazer Engenharia Metalúrgica, mas ao mesmo tempo me interessei pelo curso de Matemática, já que conseguia sair um pouco da área de Engenharia. Mas nem pude acabar minha tese, porque logo depois saí do país”, recorda.

Realizou seu mestrado (DEA) em Matemática-Estatística na Faculdade de Ciências da Universidade de Paris, atual Université Pierre et Marie Curie. Trabalhou três anos na França como engenheiro-informático na Societé de Traitement Automatique des Données, na capital, onde também vivenciou experiências fascinantes na área cultural.

“Trabalhei com Ciência da Computação e cheguei a ser presidente de um grupo de teatro. Era um projeto com 50 pessoas financiado por dinheiro público. Nada mal, né? Um estrangeiro mexendo com teatro na França, assinando cheque e tudo que tem direito”, brinca Nelson.


Ingresso na COPPE

Quando retornou ao Rio de Janeiro, em julho de 1971, o matemático já voltou casado com a professora Anne-Marie Maculan, com quem teria os filhos Juliene, Berenice e Sebastien. E lá foi ele procurar emprego e, logo, um professor da COPPE indicou um concurso aberto na UFRJ. Cerca de um mês depois, iniciou sua carreira na instituição como Professor Assistente do Instituto de Matemática da Universidade.

Em 1975, fez seu doutorado em Engenharia de Produção na UFRJ, onde se especializou ainda mais para aquilo que o fascinava em meio à área acadêmica: a docência. “Sempre costumo dizer que não formei ninguém. Nem meus filhos. Eu dou exemplo de vida. Formar é colocar numa forma”, enfatiza.

Sua história com a SBMAC se estreitou três anos depois. O engenheiro esteve presente no famoso Simpósio Nacional de Cálculo Numérico, em Belo Horizonte, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde seria fundada a entidade.

“Estive naquele evento e me lembro que fiquei impressionado com a vontade de toda aquela gente de fazer a diferença, de participar das decisões, e isso só foi crescendo. Fico orgulhoso de ver que a SBMAC alcançou tal patamar de excelência”, avalia Nelson, fazendo uma viagem nos 45 anos de existência da Sociedade.


Conselho da SBMAC

Ao longo de sua trajetória profissional, ele foi membro permanente da SBMAC, começando na década de 1980. Primeiramente a suplência no Conselho, onde assumiria a cadeira titular em 1987 na gestão de Carlos Antônio de Moura. De 1989 a 1991, manteve-se como titular sob a presidência de Marco Antonio Raupp.

Suas contribuições paralelas à SBMAC o colocam até hoje como referência na UFRJ, onde foi reitor, diretor da COPPE e chefe do Departamento de Matemática Aplicada do Instituto de Matemática na instituição. Desde 1971, Nelson permanece ativo ministrando disciplinas desde Cálculo, Probabilidade, Simulação Discreta, Pesquisa Operacional e Álgebra Linear na graduação até Programação Linear, Programação Inteira, Otimização em Grafos, Otimização Combinatória, Álgebra Linear Computacional, Otimização de Sistemas de Grande Porte e Simulação Discreta na pós-graduação.

Durante todo o período em suas pesquisas, nunca deixou de acompanhar a evolução da SBMAC e tem ficado satisfeito com o rumo na Matemática Aplicada Brasileira.

“Eu fico orgulhoso de ver que a SBMAC é reconhecida internacionalmente, como consegue trazer pesquisadores e cientistas de fora para seus congressos, todos com prestígio para virem aqui. Ao mesmo tempo, ela se tornou abrangente no Brasil, alcançando universidades estaduais, federais e municipais, adentrando no interior dos estados. Sinto que a SBMAC conseguiu fazer o que outras entidades não conseguiram, ela popularizou mais a Matemática”, enxerga Nelson.

Para o futuro, o eterno conselheiro da SBMAC espera que o ensino de Matemática evolua para atrair mais estudantes do país. Ao mesmo tempo, com seu sorriso generoso característico, ele se considera muito feliz por ter investido seu tempo na construção de um legado benéfico para a comunidade.

“A SBMAC poderia pensar com mais carinho em como melhorar o ensino de Matemática nas faculdades, porque dar ideias é importante. E eu me considero um político da educação superior. Minhas lutas e meu papel na política de educação do país foram muito importantes. Para mim, a Matemática não é uma ciência, é uma arte. Eu me sinto gratificado por ter participado de algo que deu certo, de ter investido parte da minha vida em algo que só cresce. E já aviso que vou continuar dando palpite”, encerra o agradável Nelson Maculan.

Confira o 27º episódio da série Memória SBMAC:

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