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Nair Abreu: à disposição total da SBMAC

Matemática fluminense é uma das pioneiras em Teoria dos Grafos no Brasil e quer contribuir mais ativamente com a Sociedade

A matemática fluminense Nair Abreu, de 74 anos, nasceu na pacata São Fidélis, entre os municípios de Campos dos Goytacazes e Nova Friburgo, e fazia parte de uma família típica do interior do estado do Rio de Janeiro, com mais três irmãs.

Desde que “se considera gente”, gostava de estudar. E como em São Fidélis não havia muitas opções escolares, Nair tomou o caminho natural das ações. 

“Quando era criança, não tinha Científico (atual Ensino Médio). Cursei a ‘Escola Normal’, no caso o jardim de infância, o primário (do 1⁰ ao 5⁰ ano do Ensino Fundamental) e o ginásio (do 6⁰ ao 9⁰ ano do EF)”, recorda. 

MATEMÁTICA NO SANGUE

A falta de estrutura na cidade natal, todavia, não atrapalhou Nair a descobrir do que gostava. Quando tinha “entre sete e oito anos”, como ela mesmo relata, acompanhava o trabalho do pai em uma farmácia. Do balcão, que ficava na altura de sua cabeça, ela se interessava pelas contas e contas que seu velho fazia com os viajantes dos grandes centros que o visitavam para vender seus remédios. 

“Meu pai conversava muito com esses representantes de laboratórios farmacêuticos, que iam para cidades pequenas a fim de vender remédios. Meu pai era muito conhecido na cidade, e eu estava no balcão. Tudo aquilo me encantou. Um deles me perguntou: ‘O que você vai ser quando crescer?’ ‘Ah eu não sei, mas vai ser alguma coisa que tenha Matemática’, respondi. Eu devia ser da altura do balcão. Nunca me esqueci dessa história”, detalha. 

Quando completou 18 anos, Nair, então, queria partir para a capital. Entretanto, o pai, do tipo rígido, a proibia de deixar a família. O jeito foi aguardar uma das irmãs mais novas também chegar à maioridade para vencer a resistência do patriarca.

A escolha para o vestibular? Nair já tinha a certeza do que preencher na inscrição: Licenciatura em Matemática. 

“Eu nunca tive dúvida do que queria fazer. Esse, creio que, foi um presente. As pessoas, geralmente quando chegam na época do vestibular, não sabiam o que fazer. Desde os sete, oito anos, eu sabia que estudaria algo de Matemática. E essa escolha foi muito acertada”, declara.

ESTUDOS E TRABALHO COMO PROFESSORA

A ida para o Rio de Janeiro foi inevitável e Nair não pensava apenas nos estudos, mas também em se sustentar na capital. Foi aprovada na Universidade Federal Fluminense (UFF), onde completou sua graduação em 1974. Conciliava os estudos com o oferecimento de aulas para uma turma de primário de colégio em São Gonçalo.

Em seguida à graduação, emendou o Mestrado em Pesquisa Operacional no Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio de Janeiro. Após completar a especialização em 1977, iniciou seu Doutorado em Engenharia de Produção no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ela ainda não tinha carro e lembra que, ainda durante o Mestrado, a ponte Rio-Niterói ainda não existia. “Eu pegava uma barca de Niterói ao Rio, depois um ônibus até a Urca, onde ficava o IME, depois voltava tudo de novo até Niterói”, rememora. 

Eventualmente, Nair conseguiu comprar um automóvel para fazer o trajeto de Niterói ao Rio pela ponte, inaugurada em 1974. Ela recorda da exaustiva rotina na época do Doutorado em que aliava várias atividades no dia a dia.

“Na época que estava na COPPE, eu dava aula em uma faculdade chamada Nuno Lisboa, que ficava na Zona Norte do Rio. Então, acordava de madrugada em Niterói, vinha para o Rio trabalhar no IME, fazer o doutorado na COPPE e dava aula na Nuno Lisboa. Voltava para casa só de noite”, descreve. 

PIONEIRISMO EM TEORIA DOS GRAFOS

Ao completar o Doutorado em 1984, Nair criou laços permanentes com a UFRJ. Dez anos depois, foi contratada como professora efetiva da instituição carioca. Como pesquisadora, ajudou a estabelecer a área de Teoria Espectral de Grafos no Brasil, a partir do início dos anos 2000, em sua atuação no programa de Pós-Graduação de Engenharia de Produção da COPPE.

O apego pela Teoria dos Grafos surgiu ainda durante o Mestrado e em um período em que o tema ainda era praticamente inexplorado pela comunidade acadêmica brasileira. 

“No IME, tive um professor chamado Luiz Oswaldo Teixeira da Silva, que sabia muito sobre Teoria dos Números. Acontece que ele tinha muita dificuldade de se relacionar com as pessoas. Eu, por outro lado, tenho muita facilidade nisso e consegui aprender muito com ele. Por ter estudado Teoria dos Números, acabei caindo na Teoria dos Grafos, que era pouquíssimo conhecida no Brasil. Não por acaso o professor Luiz Oswaldo foi meu orientador na dissertação de Mestrado”, conta Nair.

RELAÇÃO COM A SBMAC

Com quase 50 anos de conhecimentos adquiridos e transmitidos incontáveis alunos, ela não poderia ficar de fora do ciclo da Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC). Nair não chegou a compor o grupo de sócios fundadores, porém compareceu a dezenas de eventos organizados pela entidade. 

Ainda assim, lamenta não ter tido uma participação mais incisiva nos processos da Sociedade. “Sou sócia da SBMAC há tanto tempo, mas me arrependo de não ter sido muito ativa como queria ter sido. Fui em vários eventos, mas nunca fiz parte de diretoria. É uma Sociedade ímpar para o Brasil, apareceu em um contexto muito importante para nossa história e já é uma das mais reconhecidas em todo o mundo”, reconhece Nair.

De mais efetivo na trajetória da SBMAC, Nair participou de grupos de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Em geral, nós determinávamos naquela vasta gama de professores quais aqueles que ganhariam bolsas como Pesquisador A, B e assim por diante. Tive a oportunidade de ser membro do grupo três vezes e o fato de você pertencer à SBMAC te facilita o trabalho de conhecer os professores e seus trabalhos. Assim, você acaba tendo referências e te ajuda no julgamento nestes grupos do CNPq, por exemplo”, detalha.

Para ela, a SBMAC acerta em sua essência por não se limitar apenas a matemáticos, mas sim agregar inúmeros profissionais que trabalham com Matemática Aplicada e áreas correlatas. 

“Ela tem um trabalho vital para o Brasil, pois agrega matemáticos, engenheiros, matemáticos aplicados, físicos, cientista de dados, profissionais da área de computação. A SBMAC permite a participação de muita gente e consegue abranger sócios de todo o país desempenhando um papel fundamental dentro da sociedade científica”, avalia a matemática. 

Para a nova geração que vem surgindo na área de Matemática Aplicada e a Computacional, a professora aconselha que tenham a proatividade de querer participar dos vários eventos abertos que a SBMAC oferece ao público interessado. 

“Você é convidado a participar da SBMAC. Eu mesma assisti a vários congressos, palestras, conheci colegas maravilhosos, pesquisadores competentes que só conhecia anteriormente só de nome. Nesses congressos, você conhece o Brasil, porque tem contato com cientistas e pesquisadores de todo o país e aprende como a Matemática por lá é desenvolvida. Eu estou falando isso quando era mais jovem e esse é o papel da SBMAC. E se fez comigo, que estou velha, imagina o que fará com os garotos. Se a pessoa percebeu que gosta de Matemática, em um evento da SBMAC vai começar a descobrir coisas novas. Ele vai ter na frente dele uma gama de informação e conhecimento que não tem na faculdade”, opina. 

Hoje, Nair é aposentada pelo COPPE-UFRJ, mas se engana quem acha que ela quer sossego. Ela aproveita para se colocar à disposição para seguir sua já rica história com a SBMAC. “Gostaria de participar mais ativamente. Eu estou com tempo agora, pois sou aposentada. E tenho horror de ficar à toa. Então, se a SBMAC quiser, pode me chamar para trabalhar”, finaliza.

Confira o 26º episódio da série Memória SBMAC:

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